quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Separação ensino avaliação

Neste artigo, como em muitos outros, vou apresentar uma ideia para defender o meu lado. Desde a 8ª série do meu fundamental tenho muita dificuldade em frequentar aulas. Na verdade, a dificuldade parece aumentar progressivamente. Fico algum tempo frequentando as aulas até o momento em que me sinto extremamente cansado e passo a não frequentar mais as aulas durante algum tempo. Às vezes, chego a abandonar ou interromper algum curso. Já abandonei um curso de italiano pela embaixada da Itália no Brasil, abandonei um técnico em telecomunicações no CEFET, interrompi o 3º ano do ensino médio (e fiz EJA — Educação de Jovens e Adultos — no ano seguinte para recuperar) e, mais recentemente, abandonei o bacharelado em matemática na UERJ. Mas, modéstia à parte, a frequência não deveria me prejudicar, pois que sou autodidata. Por isto, apresento aqui uma ideia parecida com, porém melhor do que, a do ensino à distância.

Trata-se da separação ensino avaliação (como resolvi chamar). Afinal, para que serve (ou deveria servir) um diploma ou certificado? Para comprovar que você é apto a exercer determinada profissão ou, de modo mais geral, para lhe conferir alguma aptidão, não para certificar que você concluiu determinado curso. Às vezes, a profissão exige algum tipo de conhecimento prático (laboratório e didática, por exemplo) que necessita de presença, mas, mais frequentemente, o conhecimento exigido é puramente teórico. E, uma vez que o que importa é a qualificação profissional, a instituição de ensino deveria colocar como exigência para a colação de grau ou obtenção do diploma tão somente a boa classificação do aluno nas avaliações (incluindo as monografias, teses, dissertações, TCC’s…).

Quero dizer que, para o “aluno” colar grau, deve ser suficiente que ele seja avaliado em cada disciplina e que o resultado das avaliações seja satisfatório, sendo opcional a inscrição do aluno na aula (turma). Assim o aluno pode se inscrever numa turma para assistir às aulas e tentar aprender, ou pode se inscrever para fazer a avaliação na disciplina ou ambos. Apenas após fazer a avaliação, ele pode ser considerado aprovado ou reprovado na disciplina. Com isto, acaba a exigência de frequência mínima (75% atualmente). A exigência de que o aluno frequente as aulas mais parece ser uma tentativa frustrada de manter uma qualidade mínima de um sistema de ensino há muito falido. Em outras palavras, é como obrigar um aluno a assistir à aula para que ele aprenda alguma coisa, já que é esperado que ele não possa aprender o suficiente para se tornar um profissional bem qualificado.

Vejamos agora os pontos importantes da separação ensino avaliação:

  • A separação só seria aplicada inicialmente ao ensino superior. Não poderia ser aplicada ao ensino fundamental uma vez que a avaliação no fundamental precisa ser subjetiva (baseada na observação que o professor faz do aluno em aula). A separação ensino avaliação no ensino médio é um debate e pode ocorrer futuramente quando a “finalidade” do ensino médio for alterada. (Em alguns países, a separação ensino avaliação no ensino médio já poderia acontecer, visto que nos mesmos o ensino médio apresenta um foco diferente daqui no Brasil.)
  • A avaliação passa a ser preparada com foco unicamente na disciplina (ou seja, em saber se o inscrito tem as aptidões exigidas da disciplina), não com foco numa turma. Acaba assim o problema de um professor aplicar a uma turma uma avaliação mais “tranquila” (menos exigente) para uma turma aparentemente menos capaz de corresponder a certas exigências. Os alunos também deixam de fingir menos capacidade. Também acaba o problema menos comum de o professor, entusiasmado com poucos alunos mais capazes na turma, aplicar uma avaliação mais difícil, prejudicando a maioria na turma.
  • Podem alguns alunos achar que seriam prejudicados com o novo sistema, pois, mesmo que o professor ensinasse mal, a avaliação seria igualmente difícil. Numa situação destas, porém, o aluno não estaria prejudicado pelo sistema, mas pelo professor. O novo sistema, aliás, poderia resolver este problema: o mal desempenho do professor ficaria comprovado e ele poderia ser demitido. No caso em que houver omissão da matéria, i.e., em que o professor simplesmente deixar de ensinar, pode ele ser demitido por justa causa, mesmo em instituições públicas. E os alunos podem processar coletivamente o professor por danos.
  • Pelas razões dadas acima, a qualidade dos profissionais brasileiros aumentaria, incluindo a dos professores. Isto melhoraria a qualidade dos serviços, incluindo serviços públicos e o ensino no país.
  • Mesmo com a separação, algumas disciplinas ainda teriam espécies de aulas práticas obrigatórias nos casos em que a avaliação deve ser prática. Seria o caso, por exemplo, de aulas de laboratório (pois o aluno é avaliado a partir de seus relatórios de laboratório e, para fazer os relatórios, ele precisa executar os experimentos) e dos estágios de licenciatura (em que o aluno é avaliado pelo seu desempenho no ensino e sua crítica).
  • O cancelamento de disciplinas é um recurso que muitas instituições de ensino superior oferecem àqueles que já fizeram a disciplina ou uma disciplina equivalente num curso anterior. Com a separação ensino avaliação, a instituição pode acabar com o cancelamento de disciplinas, devendo o aluno fazer a avaliação da instituição para cada disciplina que quisesse “cancelar”. Uma das desvantagens do cancelamento de disciplinas é que a instituição não aceita fazer o cancelamento quando acredita que a disciplina que o aluno fez anteriormente foi de menor qualidade comparada com a da instituição atual. Com a separação ensino avaliação, o aluno pode simplesmente fazer a avaliação da instituição caso acredite corresponder às exigências da instituição, mesmo que sua formação anterior seja considerada mais “fraca”. À exceção, o cancelamento ainda poderia ser feito para aquelas disciplinas que exigem avaliação prática.
  • A separação ensino avaliação é conveniente aos autodidatas e àqueles que já obtiveram as aptidões exigidas para a disciplina de outra forma. Por exemplo, uma pessoa que tenha aprendido francês desde pequena com a família não precisa assistir às aulas de francês de sua licenciatura em letras português-francês. Mais ainda, isto permite que algumas pessoas terminem mais rapidamente seu curso, pois elas podem fazer a avaliação das disciplinas que já conhecem no mesmo semestre ou ano em que fazem aula e avaliação das disciplinas que precisam aprender, sem se preocupar com conflito de horário daquelas.
  • Alguns podem achar que haveria uma diminuição das vagas para professores. Mas isto não aconteceria, pois o número de autodidatas é pequeno e a maioria prefere aprender assistindo às aulas. Mesmo muitos autodidatas preferem assistir às aulas para confrontar diferentes fontes de informação ou para complementar seu conhecimento.
  • Para que a separação ensino avaliação funcione, ela deve constar em lei. Quero dizer, deve haver as mudanças necessárias para que ela aconteça (fim ou alteração de leis que a impedem, regulamentação específica e obrigatoriedade de instituições públicas e privadas de oferecerem este sistema).

Nenhum comentário :

Postar um comentário