quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ditadura e democracia para quem?

Muitas vezes, parece-me que os termos ditadura e democracia são empregados aleatoriamente ou com intenções de manipulação política. O nazismo, por exemplo, considerado por quase todos uma ditadura, foi escolhido pela maioria dos alemães. Houve votação e Hitler foi eleito. Não estou, em hipótese alguma, defendendo o nazismo. Afinal, houve holocausto, ultranacionalismo, preconceito, incluindo antissemitismo, racismo e xenofobia, violência, guerras. Mas não foi uma ditadura. No tempo da segunda guerra mundial, havia três polos políticos: EUA com o capitalismo, Alemanha com o nazismo e URSS com o socialismo. EUA precisava não apenas guerrear contra estes polos, mas combatê-los ideologicamente. Era preciso convencer a maior parte do mundo de que os outros dois sistemas políticos eram ruins. Então os EUA começaram a promulgar a ideia de que estes dois sistemas eram, na verdade, ditaduras e que os EUA estavam dispostos a levar, através da guerra, sua suposta democracia a estes países. Um argumento muito semelhante foi utilizado pelos EUA para dominar a América Latina, rica em recursos naturais, e é utilizado até hoje para dominar o Oriente Médio, rico em petróleo. A segunda guerra mundial acabou, o capitalismo venceu e a ideia de que o nazismo e o socialismo soviético eram ditaduras e que capitalismo é sinônimo de democracia se consolidou. Em geral, o rótulo de ditadura ou, ao menos, a preocupação dos EUA com uma suposta ditadura é dada apenas aos inimigos dos EUA. Um bom exemplo foi a ditadura militar brasileira. Ao meu ver, muito parecida com a cubana. Mas, enquanto Cuba recebia fortes críticas dos EUA, a ditadura no Brasil era raramente mencionada no exterior. Isto porque, enquanto Cuba se opunha ao capitalismo, o Brasil se mostrava aliado dos EUA.

Além disso, os EUA têm várias das características negativas associadas às ditaduras. Os norte-americanos eram extremamente racistas na época da segunda guerra e havia também certo antissemitismo herdado do cristianismo. O povo norte-americano é até hoje ufanista, com a bandeira e as cores dos EUA por todos os lados. O povo ainda tem preconceito religioso, em particular contra os muçulmanos. Há xenofobia contra os latino-americanos, principalmente mexicanos, e contra o povo do Oriente Médio muçulmano. O argumento que muitos norte-americanos dão contra os mexicanos é que estes estão tirando seus empregos, argumento muito semelhante ao que Hitler usava contra os judeus, com a diferença de que um mexicano tem muito mais dificuldade de conseguir um bom emprego nos EUA do que um judeu tinha na Alemanha pré-nazista. Os EUA não torturam em território nacional mas mandam seus militares para a guerra para torturar em território inimigo, conforme informações vazadas pela imprensa. As pessoas lembram das experiências feitas com judeus no holocausto mas ignoram as experiências com negros feitas por cientistas norte-americanos. Sem contar as bombas atômicas lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

Os EUA exportam cultura para todo o mundo, esforçando-se em tornar esta cultura uma necessidade para os estrangeiros, mas restringe a entrada de cultura estrangeira em seu território através de um rigoroso exame para os que tentam obter a cidadania norte-americana. Os EUA dizem guerrear contra o Oriente Médio para levar democracia a estes povos ditadores, mas são, na verdade, as ditaduras do Oriente Médio uma consequência das guerras: um governo tende a se tornar ditador durante uma guerra, pois as ditaduras são mais fortes nesta ocasião. E então o nazismo era tão democrático quanto os EUA ou os EUA são tão ditadores quanto Hitler.

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