sábado, 18 de julho de 2015

Instituições especiais

Grave problema que temos no estado e no município do Rio de Janeiro e que tem que acabar são as instituições especiais. Trata-se de organizações governamentais que, com base na subjetividade dialética, são criadas para fins que não lhe competem. São uma forma de autoritarismo, pois dão a órgãos do governo poderes que eles não deveriam deter, aumentando o poder de ação do governo sobre e contra a população indefesa. Já temos cinco casos notáveis no estado e no município.

O mais clássico e bem conhecido é o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM). É dito especial pela sua função específica: acabar com as facções criminosas, o que, de fato, compete à PM. Porém o BOPE é muito mais especial por outra razão: suas táticas. Estas frequentemente colocam em risco a população de áreas dominadas por facções, o que contradiz a função de segurança da polícia.

Outro caso é o CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil). Esta age em casos considerados atos terroristas, e tem sido usada contra as facções criminosas, que são, de fato, terroristas, tanto quanto o BOPE. Porém, proteger a população de terroristas já é função da PM.

No município, temos a SEOP (Secretaria Municipal de Ordem Pública) que, quando criada, chamava-se Secretaria Especial da Ordem Pública. A princípio, a ordem já é função da polícia, e a SEOP não coordena nem tem função semelhante à da polícia. Em mais um recurso dialético, a prefeitura se utiliza de outro conceito de “ordem” para atribuir à SEOP função diferente da da polícia: higienização (estética urbana).

Com função semelhante à da SEOP, e frequentemente trabalhando em conjunto com ela, há o GOE-GM (Grupamento de Operações Especiais da Guarda Municipal). Enquanto os outros grupamentos têm funções claras e intimamente relacionadas com a função geral da Guarda Municipal de “proteger bens, serviços e instalações municipais”, o GOE tem se focado em tarefas de higienização e opressões políticas.

Por fim, a Lapa Presente, operação da Polícia Civil, é também uma instituição especial, pois tem função própria da PM. Ela foi criada para fazer presença (i.e., demonstrar funcionalidade) diante dos turistas. Por isso foi escolhida a Polícia Civil para esta tarefa; caso contrário, os turistas certamente se assustariam com a truculência de nossa PM.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O que Jesus diz…

Eis o que Jesus e os apóstolos dizem, através do Novo Testamento, sobre as Igrejas de ontem e de hoje e seus dogmas. Os trechos são tirados da NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).

Sobre a preservação do corpo

“Se uma de suas mãos ou um de seus pés faz com que você peque, corte-o e jogue fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna sem uma das mãos ou sem um dos pés do que ter as duas mãos e os dois pés e ser jogado no fogo eterno. Se um dos seus olhos faz com que você peque, arranque-o e jogue fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna com um olho só do que ter os dois e ser jogado no fogo do inferno.” (Mt 18:8‒9; análogos Mt 5:29‒30; Mc 9:43‒48)

Sobre as pregações públicas

“Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros. Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de vocês, que está no céu.” (Mt 6:1)

Sobre as ações sociais

“Quando você der alguma coisa a uma pessoa necessitada, não fique contando o que fez, como os hipócritas fazem nas sinagogas e nas ruas. Eles fazem isso para serem elogiados pelos outros. (…) Mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.” (Mt 6:2a‒b,3‒4)

Sobre o costume de orar de pé nas igrejas

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. (…) Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.” (Mt 6:5a‒b,6)

Sobre as ladainhas e palavras de louvor durante as orações

“Nas suas orações, não fiquem repetindo o que vocês já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas.” (Mt 6:7)

Sobre as ladainhas e o dízimo

“Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês exploram as viúvas e roubam os seus bens e, para disfarçarem, fazem longas orações! Por isso o castigo de vocês será pior!” (Mt 23:14; análogos Mc 12:40; Lc 20:47)

Sobre o dízimo e o enriquecimento das Igrejas

“Um escravo não pode servir a dois donos ao mesmo tempo, pois vai rejeitar um e preferir o outro; ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro.” (Mt 6:24)

“Quando Jesus estava saindo do pátio do Templo, um discípulo disse:

— Mestre, veja que pedras e edifícios impressionantes!

Jesus respondeu:

— Você está vendo estes enormes edifícios? Pois aqui não ficará uma pedra em cima da outra; tudo será destruído!” (Mc 13:1‒2; análogo Mt 24:1‒2)

“Ele lhes disse:

— Nas Escrituras Sagradas está escrito que Deus disse o seguinte: ‘A minha casa será chamada de “Casa de Oração”.’ Mas vocês a transformaram num esconderijo de ladrões!” (Mt 21:13; análogo Mc 11:17)

Sobre o trabalho

“Então Jesus disse aos seus discípulos:

— É por isso que eu digo a vocês: não se preocupem com a comida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para se vestir. Pois a vida é mais importante do que a comida, e o corpo é mais importante do que as roupas. Vejam os corvos: não semeiam, não colhem, não têm despensas nem depósitos, mas Deus dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os pássaros? Qual de vocês pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso? Portanto, se vocês não podem conseguir uma coisa assim tão pequena, por que se preocupam com as outras? Vejam como crescem as flores do campo: elas não trabalham, nem fazem roupas para si mesmas. Mas eu afirmo a vocês que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como uma dessas flores. É Deus quem veste a erva do campo, que hoje está aqui e amanhã desaparece, queimada no forno. Então é claro que ele vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena! Portanto, não fiquem aflitos, procurando sempre o que comer ou o que beber. Pois os pagãos deste mundo é que estão sempre procurando todas essas coisas. O Pai de vocês sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus, e Deus lhes dará todas essas coisas.” (Lc 12:22‒31; análogo Mt 6:25‒34)

“Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo, ordenamos a vocês que se afastem de todos os irmãos que vivem sem trabalhar e que não seguem os ensinamentos que demos a eles. Vocês sabem muito bem que devem seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vocês sem trabalhar. Não temos recebido nada de ninguém, sem pagar; na verdade trabalhamos e nos cansamos. Trabalhamos sem parar, dia e noite, a fim de não sermos um peso para nenhum de vocês. É claro que temos o direito de receber sustento; mas não temos pedido nada a fim de que vocês seguissem o nosso exemplo. Porque, quando estávamos aí, demos esta regra: ‘Quem não quer trabalhar que não coma.’” (2Ts 3:6‒10)

Sobre métodos próprios de algumas Igrejas

“Não é toda pessoa que me chama de ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu. Quando aquele dia chegar, muitas pessoas vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, pelo poder do seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!’ Então eu direi claramente a essas pessoas: ‘Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!’” (Mt 7:21‒23)

“Pois alguns homens que não temem a Deus entraram no meio da nossa gente sem serem notados. Eles torcem a mensagem a respeito da graça do nosso Deus a fim de arranjar uma desculpa para a sua vida imoral.” (Jd 4a‒b)

Sobre a família

“Quando Jesus ainda estava falando ao povo, a mãe e os irmãos dele chegaram. Ficaram do lado de fora e pediram para falar com ele. Então alguém disse a Jesus:

— Escute! A sua mãe e os seus irmãos estão lá fora e querem falar com o senhor.

Jesus perguntou:

— Quem é a minha mãe? E quem são os meus irmãos?

Então apontou para os seus discípulos e disse:

— Vejam! Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos. Pois quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Mt 12:46‒50; análogos Mc 3:31‒35; Lc 8:19‒21)

“E aqui na terra não chamem ninguém de pai porque vocês têm somente um Pai, que está no céu.” (Mt 23:9)

“Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo.” (Lc 14:26)

“E todos os que, por minha causa, deixarem casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras receberão cem vezes mais e também a vida eterna.” (Mt 19:29; análogos Mc 10:29‒30; Lc 18:29‒30)

“Outro homem disse:

— Eu seguirei o senhor, mas primeiro deixe que eu vá me despedir da minha família.

Jesus respondeu:

— Quem começa a arar a terra e olha para trás não serve para o Reino de Deus.” (Lc 9:61‒62)

“Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada. Eu vim para pôr os filhos contra os pais, as filhas contra as mães e as noras contra as sogras. E assim os piores inimigos de uma pessoa serão os seus próprios parentes.” (Mt 10:34‒36; análogo Lc 12:51‒53)

“Vocês serão entregues às autoridades pelos seus próprios pais, irmãos, parentes e amigos, e alguns de vocês serão mortos.” (Lc 21:16)

“Muitos entregarão os seus próprios irmãos para serem mortos, e os pais entregarão os filhos. E os filhos ficarão contra os pais e os matarão.” (Mc 13:12)

Sobre os dogmas

“Deus disse:
Este povo com a sua boca diz que me respeita,
mas na verdade o seu coração está longe de mim.
A adoração deste povo é inútil,
pois eles ensinam leis humanas como se fossem meus mandamentos.”
(Mt 15:8‒9; análogo Mc 7:6‒7)

Sobre a conversão religiosa

“Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês atravessam os mares e viajam por todas as terras a fim de procurar converter uma pessoa para a sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.” (Mt 23:15)

Sobre a misericórdia divina

“Mas um homem chamado Ananias, casado com uma mulher que se chamava Safira, vendeu um terreno e só entregou uma parte do dinheiro aos apóstolos, ficando com o resto. E Safira sabia disso. Então Pedro disse a Ananias:

— Por que você deixou Satanás dominar o seu coração? Por que mentiu para o Espírito Santo? Por que você ficou com uma parte do dinheiro que recebeu pela venda daquele terreno? Antes de você vendê-lo, ele era seu; e, depois de vender, o dinheiro também era seu. Então por que resolveu fazer isso? Você não mentiu para seres humanos — mentiu para Deus!

Assim que ouviu isso, Ananias caiu morto; e todos os que souberam do que havia acontecido ficaram com muito medo. Então vieram alguns moços, cobriram o corpo de Ananias, levaram para fora e o sepultaram.

A mulher de Ananias chegou umas três horas depois, sem saber do que havia acontecido com o marido. Aí Pedro perguntou a ela:

— Me diga! Foi por este preço que você e o seu marido venderam o terreno?

— Foi! — respondeu ela.

Então Pedro disse:

— Por que você e o seu marido resolveram pôr à prova o Espírito do Senhor? Os moços que acabaram de sepultar o seu marido já estão lá na porta e agora vão levar você também.

No mesmo instante ela caiu morta aos pés de Pedro. Os moços entraram e, vendo que ela estava morta, levaram o corpo dela e o sepultaram ao lado do marido. E toda a igreja e todos aqueles que souberam disso ficaram apavorados.” (At 5:1‒11)

“E tomem cuidado também para que ninguém se torne imoral ou perca o respeito pelas coisas sagradas, como Esaú, que, por causa de um prato de comida, vendeu os seus direitos de filho mais velho. Como vocês sabem, depois ele quis receber a bênção do seu pai. Mas foi rejeitado porque não encontrou um modo de mudar o que havia feito, embora procurasse fazer isso até mesmo com lágrimas.” (Hb 12:16‒17)

Sobre o paganismo e o sincretismo

“Então Paulo ficou de pé diante deles, na reunião da Câmara Municipal, e disse:

— Atenienses! Vejo que em todas as coisas vocês são muito religiosos. De fato, quando eu estava andando pela cidade e olhava os lugares onde vocês adoram os seus deuses, encontrei um altar em que está escrito: ‘Ao Deus Desconhecido’. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer é justamente aquele que eu estou anunciando a vocês.” (At 17:22‒23)

Sobre a sanidade na fé

“Quando Paulo estava se defendendo assim, Festo gritou:

— Paulo, você está louco! Estudou tanto, que acabou perdendo o juízo!” (At 26:24)

Sobre o preconceito ao credo

“Não se juntem com descrentes para trabalhar com eles. Pois como é que o certo pode ter alguma coisa a ver com o errado? Como é que a luz e a escuridão podem viver juntas? Como podem Cristo e o Diabo estar de acordo? O que é que um cristão e um descrente têm em comum?” (2Co 6:14‒15)

Sobre a escravidão

“Escravos, obedeçam com medo e respeito àqueles que são seus donos aqui na terra. E façam isso com sinceridade, como se estivessem servindo a Cristo. Não obedeçam aos seus donos só quando eles estiverem vendo vocês, somente para conseguir a aprovação deles. Mas, como escravos de Cristo, façam de todo o coração o que Deus quer. Trabalhem com prazer, como se vocês estivessem trabalhando para o Senhor e não para pessoas. Lembrem que cada pessoa, seja escrava ou livre, será recompensada pelo Senhor de acordo com o que fizer.” (Ef 6:5‒8; análogo Cl 3:22‒24)

“Aqueles que são escravos devem tratar o seu dono com todo o respeito, para que ninguém fale mal do nome de Deus e dos nossos ensinamentos. E os escravos que têm dono cristão não devem perder o respeito por ele por ser seu irmão na fé. Pelo contrário, devem trabalhar para ele melhor ainda, pois o dono, que recebe os seus serviços, é cristão e irmão amado.” (1Tm 6:1‒2b)

“Vocês, empregados, sejam obedientes aos seus patrões e os respeitem, não somente os que são bons e compreensivos, mas também aqueles que os tratam mal.” (1Pd 2:18)

Sobre as mulheres e a misoginia

“Não procure ficar bonita usando enfeites, penteados exagerados, jóias ou vestidos caros. Pelo contrário, a beleza de você deve estar no coração, pois ela não se perde; ela é a beleza de um espírito calmo e delicado, que tem muito valor para Deus. Porque era assim que costumavam se enfeitar as mulheres do passado, as mulheres que eram dedicadas a Deus e que punham a sua esperança nele. Elas eram obedientes ao seu marido. Sara foi assim; ela obedecia a Abraão e o chamava de ‘meu senhor’. Você será agora sua filha se praticar o bem e não tiver medo de nada.” (1Pd 3:3‒6)

“As mulheres devem aprender em silêncio e com toda a humildade. Não permito que as mulheres ensinem ou tenham autoridade sobre os homens; elas devem ficar em silêncio. Pois Adão foi criado primeiro, e depois Eva. E não foi Adão quem foi enganado; a mulher é que foi enganada e desobedeceu à lei de Deus. Mas a mulher será salva tendo filhos se ela, com pureza, continuar na fé, no amor e na dedicação a Deus.” (1Tm 2:11‒15)

Jesus no monte das Oliveiras

(Baseado em Lucas 22:39‒46.)

Em mais um dia, como de costume, Jesus sobe o monte das Oliveiras com seus doze apóstolos pra orar. Jesus, como sempre, à frente dos apóstolos. Jesus se ajoelha e, poucos metros atrás, os apóstolos fazem o mesmo. Então todos começam suas orações. Em dado momento, de olhos fechados, Jesus tem uma visão. Ele vê um cálice se aproximar dele, na altura do peito. Ele olha pra dentro do cálice, e o cálice continha vinho. Como que na superfície do vinho, ele vê as cenas do que viria a acontecer com ele: do diabo nele incorporado falando aos apóstolos e a Judas em particular, da traição de Judas, da negação por parte de Pedro, da condenação, da crucificação, da morte. O vinho dentro do cálice simbolizava todo esse sofrimento pelo qual Jesus passaria.

Toda essa visão se passa em segundos, se não numa fração do segundo. Apavorado e em prantos, Jesus grita: “Pai, afasta de mim este cálice!” A bíblia diz literalmente que Jesus, nessa hora, chorou lágrimas de sangue, ou que seu suor era como gotas de sangue. Apesar de a ciência provar que isto é possível, as lágrimas de sangue são, neste caso, uma metáfora pro sofrimento profundo contido nas lágrimas de Jesus. Por fim, um anjo é enviado por deus pra consolar Jesus. Um dos apóstolos consegue ver o anjo. O anjo se ajoelha ao lado de Jesus, de frente pra ele, e o envolve com suas asas, consolando-o.

Agressão × agressividade

Em busca de um título conciso, talvez eu não tenha escolhido as melhores palavras. Mas, por agressividade, refiro-me a uma personalidade agressiva. Há muito preconceito com relação aos que têm uma personalidade agressiva. O fato de uma pessoa ter uma personalidade assim não significa que ela seja propensa a cometer agressões com frequência. Penso até mesmo que a personalidade agressiva seja uma questão de natureza própria; assim a pessoa teria uma natureza agressiva.

Por exemplo, lutadores profissionais têm todos uma personalidade agressiva. Mas isto não quer dizer que eles batam indisciplinadamente nas pessoas, com a intenção de ferí-las. Muito pelo contrário, costumam lutar apenas por esporte, junto a pessoas que também lutam por esporte. Lutar não é errado. Errado é agredir, bater com a intenção de ofender, machucar, ferir pessoas que não queiram receber este tipo de agressão.

Quando se reprime uma pessoa de natureza agressiva, o risco de ela vir a se tornar realmente violenta é muito maior. É como se a repressão provocasse um acúmulo, no campo emocional do indivíduo, de toda a agressividade não expressa, o que pode culminar numa explosão emocional de violência e um final infeliz. Portanto, a melhor decisão a se tomar com relação a uma pessoa de natureza agressiva é, por estranho que possa parecer, estimular sua agressividade. Isto permite que o indivíduo extravase sua natureza agressiva e evita que ele se torne violento por repressão.

O estímulo da agressividade pode ser feito, por exemplo, através da brincadeira vigiada. Deixar crianças e jovens brincarem de luta (“brincar de briga”) não é um problema, desde que haja a vigilância de um adulto. Deve-se vigiar sem proibir. Outra forma de estímulo é o aprendizado e competição de lutas profissionais. O estímulo permite ainda o direcionamento da agressividade, o que provê maior controle emocional (o indivíduo se torna menos propenso a agredir durante ataques de raiva) e o controle na aplicação dos golpes (os golpes são aplicados de modo a não provocarem mortes ou ferimentos graves). Com isto, o indivíduo tende a lutar apenas por esporte ou por defesa (pessoal ou não).


Outra característica muito confundida é a expressividade forte (geniosidade). Algumas pessoas discutem como se, na mentalidade alheia, estivessem a ponto de agredir. Podemos tomar o exemplo dos italianos, que conversam com tamanha expressividade que, do ponto de vista de outros povos, parecem estar discutindo. E, assim, quando discutem de fato, podem parecer estar prestes a agredir. É um preconceito que pode prejudicar muito quem foi julgado equivocadamente. Mesmo que, a princípio, acarrete apenas a repressão, por parte da sociedade, desta personalidade, esta repressão pode resultar em problemas semelhantes àqueles observados em casos de repressão da personalidade agressiva.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Pereira Passos não morreu

A prefeitura Pereira Passos

Todo estudante de Ensino Médio no Rio de Janeiro aprende sobre o ex-prefeito (1902‒1906) do Rio de Janeiro, então capital federal, Francisco Pereira Passos. Nomeado pelo então presidente da república Rodrigues Alves, ficou conhecido pela sua política de urbanização, o Bota-abaixo. Mandou despejar várias pessoas de suas moradias e demolir casas e cortiços insalubres no Centro da cidade. No lugar, construiu novas ruas, alargou ruas e avenidas, construiu praças e parques ao estilo francês da época. Tal reforma urbanística supostamente objetivava mobilidade, saneamento e o embelezamento da cidade. Foi após esta reforma que o Rio ganhou o título de Cidade Maravilhosa. Hoje o Bota-abaixo é muito criticado e seus objetivos questionados. Foi ele que deu início ao processo de favelização no Rio: as pessoas que eram despejadas, sem ter outro lugar pra morar, iam morar no subúrbio ou nos morros, em casebres e barracos igualmente insalubres. Isto punha em xeque o objetivo de saneamento. Saneamento pra quem? Além disso, o subúrbio sofria com poucas ruas, que não eram asfaltadas. Então, mobilidade pra quem? Assim concluiu-se que o objetivo foco do Bota-abaixo era, na verdade, o embelezamento do Centro e, para este fim, Pereira Passos foi capaz de desrespeitar os direitos humanos.

Hoje vemos as marcas dessa política. O Centro até hoje se destaca esteticamente com relação ao subúrbio, que ainda sofre com falta de recursos. A Avenida Presidente Vargas divide o Centro em duas partes bem distintas: um lado, mais próximo do litoral, possui muitas ruas e avenidas largas, comércio intenso e organizado, parques e praças belos e bem cuidados, prédios suntuosos; o outro, atrás da Central, onde fica o morro da Providência, parece um lixo, com calçadas estreitas, residências espremidas umas nas outras, obras nunca acabadas e, é claro, o domínio do tráfico. Até nos Restaurantes Cidadãos (popularmente chamados Garotinhos, em homenagem ao ex-governador responsável pela sua criação) se vê a diferença. Enquanto os outros Restaurantes Cidadãos apresentam um serviço satisfatório, o do Centro, localizado atrás da Central, tem uma fila enorme debaixo de sol, seguranças que só servem pra segurar a fila, impedindo-a de avançar e deixando que avancem somente os que estão fora dela, um calor insuportável, canos de exaustão quebrados, deixando o ar quente escapar pra dentro do restaurante, sistema de ventilação insatisfatório, bebedouros e pias quebrados, banheiros constantemente interditados e a falta de educação de uns manés sendo ignorada pelos seguranças. O preço aumenta mas a qualidade só decai: não há mais sopa no cardápio, faltam talheres e só um dos caixas funciona. Na prefeitura Eduardo Paes, também está havendo uma preocupação estética maior com o Centro, com obras do que ele mesmo chama de “revitalização” (pois propõem devolver a “vida” que o Centro ganhara com Pereira Passos), algumas de destaque, como a reforma do MAR (Museu de Arte do Rio), as obras Porto Maravilha e a criação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, este com foco em mobilidade sustentável).

Escândalos da prefeitura Paes

E Eduardo Paes tem ido além, ferindo direitos legais e naturais de muita gente, como pude verificar por experiência própria. E contando, inclusive, com órgãos de estado, uma continuidade do governo Sérgio Cabral, correligionário de Paes. A Guarda Municipal e agentes da SEOP (Secretaria Municipal de Ordem Pública) proíbem moradores de rua de fazerem, nas praças do Centro, coisas consideradas “feias”, como se deitar, espalhar pertences e até mesmo cozinhar o próprio alimento. A Operação Lapa Presente, como o nome diz, foi criada mesmo só pra fazer presença diante de gringo, já que a Lapa é um importante ponto turístico da cidade. Tanto que sua área de atuação se restringe ao Centro (especificamente Lapa e proximidades), ficando desprivilegiado o subúrbio. Pior, a Lapa Presente tem também a função de auxiliar o Choque de Ordem.

Operação da Guarda Municipal, em conjunto com a SMDS (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social), o Choque de Ordem é outro erro. Criado por Eduardo Paes, o Choque de Ordem tem o objetivo, segundo o próprio prefeito, de levar até um abrigo os usuários de crack em situação de rua que quiserem ir. Só seriam levados à força os que infringissem a lei. Mas a realidade é outra. O Choque de Ordem leva não só usuários de crack, mas qualquer morador de rua, e os leva à força, valendo-se até mesmo da ignorância de alguns para os convencer de que são obrigados a ir. São as chamadas remoções compulsórias. O Choque de Ordem só tem agido no fim da noite ou de madrugada, escondendo-se do olhar do público. Moradores de rua fogem quando avistam o Choque de Ordem de longe. Quando aparece mais cedo, o Choque de Ordem não obriga a ir, mas impede de permanecer no local, demonstrando que sua função é a remoção, não o acolhimento. Em 2013, o MPE-RJ entrou com ação na justiça contra Eduardo Paes [1] [2] pelas remoções compulsórias de moradores de rua, exigindo a perda do mandato do prefeito e a cassação de seus direitos políticos por 5 anos, além de uma indenização de R$ 50 mil por cada um dos 6 mil moradores de rua do Rio e uma indenização de dano coletivo de R$ 300 milhões. Além disso, o maior abrigo municipal do Rio, a URS (Unidade de Reinserção Social) Rio Acolhedor, em Paciência, próximo à estação de trem Tancredo Neves, fica na favela Antares, ao lado da boca de fumo. Isto detona a desculpa de que o Choque de Ordem serve pra auxiliar usuários de crack contra o vício. A verdadeira intenção na remoção da população de rua é estética.

Os defeitos dos abrigos e os três focos de poder

Os abrigos contam ainda com outros defeitos. O Rio Acolhedor é claramente dominado pela facção (no caso, o CV — Comando Vermelho) com a consciência de todos os funcionários; traficantes frequentemente “invadem” o abrigo e alteram normas internas; fecham serviços internos, como o posto de saúde; os tiroteios e explosões de granadas são frequentes e, às vezes, alguém é atingido por uma bala perdida. De um modo geral, as populações de rua estão sujeitas a três focos de poder: dois deles já mencionados são o Estado (que age através da prefeitura e do serviço social) e o poder faccional (que se relaciona principalmente através do tráfico, já que muitos moradores de rua usam drogas ou traficam).

Outro foco são as Igrejas. Estas se aproveitam das necessidades dos moradores de rua (como fome, roupa e banho) e usam frases bíblicas como “Não só de pão viverá o homem” pra ressocializar os moradores de rua e, principalmente, lucrar com isto, objetivando, nesta sequência: a conversão religiosa, emprego pro indivíduo e, como consequência, o pagamento regular do dízimo através do salário ganho com este emprego. Uma vez que as Igrejas fazem um trabalho de ressocialização conforme os interesses do Estado, há uma simbiose entre ambos. A Igreja Universal de Santa Cruz, por exemplo, entra livremente no Rio Acolhedor, com microfone e amplificador de áudio, perturbando os abrigados que não querem ouvir a pregação e praticando o exorcismo de portadores de transtornos mentais. Aliás, existem vários destes no abrigo, e o tratamento deles é comprovadamente dificultado pela ação de Igrejas fundamentalistas. [1] [2] [3]

Mas o que os moradores de rua mais reclamam dos abrigos é a distância. Tanto o Rio Acolhedor quanto o CRAF (Centro de Referência e Assistência à Família) Tom Jobim, na Ilha do Governador, ficam distantes do Centro, onde costumam ocorrer as atividades dos moradores de rua.

Menores na pista

Outro problema, ainda, são os menores de rua. Muito mais vulneráveis, acabam aprendendo com contraventores mais velhos a infringir a lei. Pra piorar, ainda há o aliciamento por parte do tráfico. O Estado espera agora resolver o problema através da redução da maioridade penal. Mas é claro que isto não resolve nada. Os aliciadores continuarão aliciando menores, e cada vez menores. E os menores continuarão sendo educados na mentalidade do crime. A raiz do problema está na educação, logo é na educação que se pode encontrar a verdadeira solução. A redução da maioridade penal só mascara o problema. E a maioria da população, leiga, preconceituosa e preguiçosa o bastante pra não ler os muitos argumentos contra a redução, acaba defendendo a redução. Muitos o fazem porque já foram roubados por menores de rua, sentiram-se prejudicados e querem a punição dos infratores. Eu mesmo já fui roubado por um menor de rua de 11 anos, que queria até mesmo me agredir, mas, antes disso, tive a oportunidade de ver várias vezes o mesmo menor sendo incentivado ao crime por homens mais velhos, usando drogas como thinner e maconha, e até mesmo usando maconha oferecida por homens que estavam fumando na praça. Por isso consigo compreender.

A verdade é que o Estado deve se responsabilizar pela educação dos menores de rua e órfãos. As crianças que estiverem na rua sem a vigilância dos pais ou de um responsável devem ser levadas à força a um abrigo municipal e matriculadas numa escola pública. Os direitos humanos podem dizer que isto é errado. Mas será pior do que deixar essas crianças na rua? Na rua, elas serão educadas na mentalidade do crime. Quando se tornarem adultos, já estarão educados e acostumados a sobreviver através do crime. Sem opção, cometerão seus crimes e, depois, sofrerão as penas previstas pela lei. O que há de humanitário nisso? É como planejar um sofrimento futuro maior pra criança sem que ela possa compreender isto. Criança não tem idade pra decidir se quer ficar na rua ou não, pois não tem maturidade pra prever as consequências desta decisão. Se confirmado que a criança que estava na rua, sem a vigilância dos pais ou de um responsável, tem pais, estes devem ser processados pelo Estado por abandono.

Outros problemas

Mesmo hoje, pessoas são despejadas [1] [2] de suas moradias por Eduardo Paes, como no tempo de Pereira Passos. Estas pessoas entram com ação na justiça exigindo indenização da prefeitura, mas se deparam com algumas dificuldades. A defensoria pública, neste caso, não ajuda de fato, pois tende a entregar a causa à prefeitura. Advogados muitas vezes aceitam propina, e os que não aceitam são pressionados a abandonar o caso. Desesperadas, algumas famílias apelam pro auxílio de Igrejas.

O serviço social, às vezes, dificulta a 2ª via da identidade de moradores de rua, alegando estar sendo pressionado pelo Ministério Público por conta de pessoas que perdem a identidade com frequência. Em primeiro lugar, as pessoas não “perdem” simplesmente a identidade; elas são roubadas ou furtadas. Em segundo lugar, o roubo e o furto de documentos não acontece à toa: existem falsificadores que compram de ladrões identidades originais emitidas pelo DETRAN. Ouvi dizer que pagam R$ 10,00 por identidade. Então o MP deveria pressionar a polícia a investigar e punir os falsificadores de documentos.

É fato que muitos moradores de rua são criminosos, roubam, furtam, traficam. Mas respeito e direitos humanos não são questão de mérito. E não podemos jogar o trigo todo fora por causa do joio; não é verdade que moradores de rua são todos vagabundos. Muitos são vendedores ambulantes ou catadores de recicláveis. Porém vendedores ambulantes têm, muitas vezes, suas atividades dificultadas pelo “rapa”, como é popularmente chamada a ação da SEOP contra o comércio ambulante ilegal. A CLF (Coordenação de Licenciamento e Fiscalização), órgão da SEOP, estabelece limites no número de comerciantes ambulantes em cada RA (Região Administrativa) e exige o credenciamento dos vendedores ambulantes mediante, dentre outros documentos, comprovante de residência, o que é claramente inviável prum morador de rua. Já os catadores de recicláveis são explorados pelos ferros-velhos, ganhando muito menos do que os garis da COMLURB (Companhia de Limpeza Urbana), e sem qualquer benefício, apesar de prestarem um serviço de melhor qualidade, não apenas limpando as ruas, mas fazendo a coleta seletiva de alumínio, PET e papelão.

Conclusões

Assim, o problema raiz do serviço social no Rio é não se importar com as metas de vida das populações de rua. O serviço social no Rio se volta tão somente aos interesses da prefeitura, que são estéticos, ignorando completamente o que querem os moradores de rua. Enquanto a prefeitura não souber conciliar os próprios interesses com os das populações de rua, estas continuarão sendo um problema.

O que também torna a população de rua um problema insolúvel é o preconceito que a sociedade tem. Muitos se sentem incomodados com a simples presença de moradores de rua (quando sabem que se trata de moradores de rua!) e querem a remoção ou mesmo o extermínio da população de rua. Com frequência, moradores de rua são tratados como unidade, ouvindo coisas como “Não pode deitar aqui; vocês sabem disso!”, “Não pode pedir aqui dentro; já avisei isso a vocês!”, “Vocês sujaram o banheiro, seus…!” (Como se o culpado fosse conhecido e só morador de rua sujasse banheiro.) Um tabu comum é o de que existem indivíduos que são de rua, já estão acostumados a viver na rua e dela não vão sair, em oposição a outros que apenas estão na rua. Os que são de rua apresentariam um perfil de rua, não apresentado pelos que apenas se encontram em situação de rua. Não passa de preconceito, visto que este suposto perfil de rua se assemelha muito ao perfil do morador de favela mais pobre. Muitos moradores do morro da Providência, por exemplo, se enquadram perfeitamente no “perfil de rua”, e alguns deles até tiram proveito do fato. Além disso, é um preconceito que só dificulta ainda mais a reinserção social do indivíduo, que acaba tendo seu problema negligenciado.

Como comparação, e pra encerrar o presente texto, vale a pena lembrar a Revolta da Vacina. Na mesma época que Pereira Passos, o sanitarista Oswaldo Cruz, muito bem intencionado, quis trazer da Europa um avanço importante na área da saúde: a vacina contra a varíola. Mas ele cometeu o erro de exigir sua obrigatoriedade. A população ainda não conhecia bem a vacina e estava traumatizada com um tempo em que os médicos tentavam prevenir doenças como a varíola passando o pus de uma pessoa infectada na pessoa sã pra que esta criasse anticorpos, o que frequentemente resultava na sua infecção. Além disso, os agentes sanitaristas, acompanhados da polícia, invadiam as casas pra matar os mosquitos e vacinar as pessoas à força. A população então se rebelou, depredando a cidade e bases policiais e espancando os agentes sanitaristas e a polícia. Pra encerrar a rebelião, o presidente declarou estado de sítio. Vendo que a obrigatoriedade da vacina só gerou caos, ele resolveu suspendê-la. Encerrada a rebelião e suspensa a obrigatoriedade da vacina, o presidente retomou a campanha de vacinação. E, em pouco tempo, a varíola já estava erradicada.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Apologia ao malandro

Hoje ouço muitas pessoas dizerem que malandro é um espírito involuído, porque é vagabundo, porque não gosta de trabalhar. Mas ainda há pessoas que, como que no espírito do séc. XIX, dizem “respeita malandro.” Naquela época, muitas pessoas gostavam do malandro, tinham afeição por ele, a ponto até mesmo de o sustentar. Algumas das atividades comuns do malandro incluíam a prostituição, o rufianismo, composição e performance musical, defesa pessoal e da comunidade, justiça social e organização de jogos de azar, como o jogo do bicho. Então é errado dizer que o malandro nunca fez nada em prol da sociedade. Se assim o fosse, ninguém o sustentaria. É fato também que prostituição é um serviço à sociedade, um entretenimento, ainda que neguem os mais hipócritas. E certos jogos de azar só são tidos por contravenção porque o Estado intenciona lucrar exclusivamente com estes, neste caso chamados loteria. Do contrário, o Estado só tornaria contravenção a fraude nos jogos de azar, não os jogos propriamente. E o jogo do bicho é o jogo de azar de preferência dos brasileiros, sendo o jogo ilícito mais difícil de extinguir aqui e para os quais muitas autoridades fazem vista grossa.

O Estado, porém, nos sécs. XIX e XX, não tinha interesse no malandro. A república, no seu início, desterrou os capoeiras para Fernando de Noronha como propaganda contra o extinto Império. Fábricas começavam a ser construídas aqui no Brasil, fábricas que interessavam ao Estado, e este precisava de operários. Muita propaganda foi feita, leis trabalhistas foram criadas e era preciso tirar os malandros das ruas e levá-los às fábricas. Era preciso destruir a figura do malandro, um sujeito que era tido como esperto por ganhar a vida sem trabalhar. Foi reforçada a imagem do vagabundo, um termo quase equivalente semanticamente ao do malandro, exceto pela pejoratividade.

A umbanda foi perseguida por muito tempo, dentre outras razões, porque os médiuns de umbanda incorporavam malandros e outros povos de rua. Terreiros de umbanda eram fechados pela polícia com a justificativa de flagrante de abuso da fé. Estes mesmos terreiros, porém, eram reabertos ou outros eram abertos em outros lugares. O Estado viu que não adiantava fechar os terreiros de umbanda e tentou influenciar a filosofia umbandista. E conseguiu. Apesar de os médiuns de umbanda, até hoje, incorporarem malandros, o umbandista hoje vê o malandro como um espírito involuído, materialista, que gosta de fumar, beber, fazer sexo e que não trabalha. Claro, muita gente fuma, bebe e faz sexo, e não é vista como errada por isso. O principal, então, que é visto como pior no malandro, é que ele não trabalha. Portanto, o pensamento do umbandista de hoje a respeito do malandro é uma influência política, que começou por volta do final do séc. XIX ou início do XX, e que está relacionada com o interesse do Estado em conseguir operários pras novas indústrias.

A figura do malandro como a conhecemos se extinguiu, tendo se fragmentado nas suas muitas facetas conforme seus hábitos: o proxeneta, o cafetão, o bicheiro, o sambista, o capoeira. Hoje são as Igrejas evangélicas que efetivamente abusam da fé. Estas, porém, não são acusadas deste modo pelo Estado ou, mais precisamente, pelo Ministério Público, porque favorecem os interesses do Estado, incentivando seus fiéis a trabalharem pra conseguir bastante dinheiro e doar parte desse dinheiro como dízimo às ditas Igrejas. É gente que trabalha. Conforme os interesses do Estado.


Como complemento, sugiro o artigo externo Malandro. Se quiser, também pode ler o artigo da Wikipédia sobre malandragem e ver como seus primeiros parágrafos (a tempo da publicação deste artigo) claramente tentam construir negativamente a figura do malandro, a exemplo, pondo a malandragem como “juridicamente definível como dolosa” e comparando várias vezes a malandragem com o jeitinho, que não eram discernidos moralmente no século passado. Merece um selo de ausência de imparcialidade.

Desta vez, fiz algum esforço e pesquisa para colocar fatos precisos e datas mais ou menos corretas. Porém, alguns dados, em particular datas, podem estar errados, mas acredito que tais erros (como nos meus artigos em geral) não prejudiquem a essência do artigo.
Acabo com o jogo do bicho na hora em que o senhor arranjar emprego para os milhares de paraibanos que ganham a vida como cambistas.
João Agripino, então governador do estado da Paraíba, em resposta à cobrança da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste em Recife de extinguir o jogo na Paraíba.

Subconsciente autônomo

A psicanálise costuma dividir as formas de consciência humana em duas: o consciente e o subconsciente. Seria o consciente a forma de consciência comum, quotidiana. Qualquer forma de consciência diferente desta é chamada de subconsciente. A psicanálise costuma tratar o subconsciente como uma única forma de consciência, tendo os pesquisadores jamais conjecturado se tratar de muitas formas de consciência. Podemos entender esta ideia como um mapa mental onde cada região é uma forma de consciência. Uma destas regiões é o consciente, e todas as outras são ingenuamente tratadas em conjunto pela psicanálise como o subconsciente.

A razão porque a psicanálise trata o subconsciente como unidade é que ela até agora só tem conhecido algumas regiões mais fracas do subconsciente. São fracas no sentido de receberem facilmente influências externas. Mas são fortes no sentido de controlar o consciente. A ideia que quero passar é a de que o consciente seria, na verdade, uma forma superficial de consciência, comparada com outra mais profunda que habita o subconsciente. Esta consciência profunda, intensa, seria mais poderosa que a consciência superficial, e teria controle sobre esta. Porém, porque raramente a usamos, ela é como a consciência de uma criança, ingênua, sem forma e altamente manipulável.

A forma que temos de nos proteger de hipnoses e sugestões da mente é desenvolver esta consciência profunda para que ela se torne tão madura, isto é, tão autônoma ou até mais do que nossa consciência superficial. Com isto ela se tornaria tão ou mais consciente do que nossa consciência superficial. Daí a ideia de um subconsciente autônomo ou subconsciente consciente. Isto explica ainda o fenômeno do insight. Podemos então nos proteger de uma hipnose da seguinte forma: ao sermos hipnotizados, nosso subconsciente autônomo poria em foco uma terceira forma de consciência, neutra. Esta forma de consciência seria neutra no sentido de não ser, em nenhum grau, consciente. Ou seja, ela é limpa, branca, sem qualquer aprendizado ou influência. De fato, ela seria incapaz de aprender. Seria, portanto, incapaz de qualquer interpretação e de obedecer a qualquer ordem. Uma ordem só poderia ser obedecida por ela se estivesse, por assim dizer, em língua nativa, quer dizer, na forma de pensamento puro não interpretável (ou já interpretado). Qualquer percepção seria então transferida, sem interpretação, ao subconsciente autônomo, que estaria ativo mesmo não estando em foco. O subconsciente autônomo faria a interpretação das percepções e, sendo autônomo, tomaria as decisões e transferiria ordens em língua nativa à forma neutra de consciência.

Podemos também ocultar verdades usando nossa memória autônoma (a memória de acesso particular do subconsciente autônomo). Uma informação pode ser armazenada diretamente na memória autônoma ou, estando armazenada na memória consciente (a memória de acesso comum do consciente e do subconsciente autônomo), pode ser replicada ou transferida à memória autônoma. Uma vez que dada informação se encontra presente apenas na memória autônoma, sem duplicata na memória consciente, ela se encontra ali protegida. Não podemos nos lembrar dela enquanto estiver em foco nossa consciência superficial. A informação se encontra mais protegida do que se estivesse em nossa memória consciente, pois, neste caso, por mais que tentássemos esconder, acabaríamos dando sinais de que conhecemos tal informação. Segundo nossa consciência superficial, não estamos escondendo informação pois literalmente não conhecemos a informação.

Nosso subconsciente consciente estaria sempre ativo mesmo não estando em foco. Ele seria nossa verdadeira personalidade, nosso verdadeiro eu. Caso desejássemos (i.e., caso nosso subconsciente consciente desejasse), poderíamos colocá-lo em foco. Várias formas de consciência podem estar ativas simultaneamente, mas apenas uma forma de consciência pode estar em foco ou selecionada num dado instante. Podemos selecionar nosso subconsciente consciente, por exemplo, para contar um segredo (um sério, obviamente, não segredos de intimidade).

Há algumas formas de se desenvolver (amadurecer) nossa consciência intensa. Algumas das formas incluem rituais ou simples hipnoses ministrados por outra pessoa. Porém estas formas são muito arriscadas, pois exigem extrema confiança na outra pessoa. Uma forma mais segura (mas ainda com seus riscos e mais lenta) é a auto-hipnose. Ela pode ser feita de várias formas, em geral se aproveitando de interpretações instintivas ou aprendidas das percepções, que se encontram numa parte do subconsciente que chamamos de instinto e que está sempre ativa. Dentre estas várias percepções, uma das mais eficientes é pelo som, mais precisamente pela música. Algumas poucas músicas são compostas para ajudar a alcançar certos estados ou formas de consciência.