terça-feira, 7 de abril de 2015

Subconsciente autônomo

A psicanálise costuma dividir as formas de consciência humana em duas: o consciente e o subconsciente. Seria o consciente a forma de consciência comum, quotidiana. Qualquer forma de consciência diferente desta é chamada de subconsciente. A psicanálise costuma tratar o subconsciente como uma única forma de consciência, tendo os pesquisadores jamais conjecturado se tratar de muitas formas de consciência. Podemos entender esta ideia como um mapa mental onde cada região é uma forma de consciência. Uma destas regiões é o consciente, e todas as outras são ingenuamente tratadas em conjunto pela psicanálise como o subconsciente.

A razão porque a psicanálise trata o subconsciente como unidade é que ela até agora só tem conhecido algumas regiões mais fracas do subconsciente. São fracas no sentido de receberem facilmente influências externas. Mas são fortes no sentido de controlar o consciente. A ideia que quero passar é a de que o consciente seria, na verdade, uma forma superficial de consciência, comparada com outra mais profunda que habita o subconsciente. Esta consciência profunda, intensa, seria mais poderosa que a consciência superficial, e teria controle sobre esta. Porém, porque raramente a usamos, ela é como a consciência de uma criança, ingênua, sem forma e altamente manipulável.

A forma que temos de nos proteger de hipnoses e sugestões da mente é desenvolver esta consciência profunda para que ela se torne tão madura, isto é, tão autônoma ou até mais do que nossa consciência superficial. Com isto ela se tornaria tão ou mais consciente do que nossa consciência superficial. Daí a ideia de um subconsciente autônomo ou subconsciente consciente. Isto explica ainda o fenômeno do insight. Podemos então nos proteger de uma hipnose da seguinte forma: ao sermos hipnotizados, nosso subconsciente autônomo poria em foco uma terceira forma de consciência, neutra. Esta forma de consciência seria neutra no sentido de não ser, em nenhum grau, consciente. Ou seja, ela é limpa, branca, sem qualquer aprendizado ou influência. De fato, ela seria incapaz de aprender. Seria, portanto, incapaz de qualquer interpretação e de obedecer a qualquer ordem. Uma ordem só poderia ser obedecida por ela se estivesse, por assim dizer, em língua nativa, quer dizer, na forma de pensamento puro não interpretável (ou já interpretado). Qualquer percepção seria então transferida, sem interpretação, ao subconsciente autônomo, que estaria ativo mesmo não estando em foco. O subconsciente autônomo faria a interpretação das percepções e, sendo autônomo, tomaria as decisões e transferiria ordens em língua nativa à forma neutra de consciência.

Podemos também ocultar verdades usando nossa memória autônoma (a memória de acesso particular do subconsciente autônomo). Uma informação pode ser armazenada diretamente na memória autônoma ou, estando armazenada na memória consciente (a memória de acesso comum do consciente e do subconsciente autônomo), pode ser replicada ou transferida à memória autônoma. Uma vez que dada informação se encontra presente apenas na memória autônoma, sem duplicata na memória consciente, ela se encontra ali protegida. Não podemos nos lembrar dela enquanto estiver em foco nossa consciência superficial. A informação se encontra mais protegida do que se estivesse em nossa memória consciente, pois, neste caso, por mais que tentássemos esconder, acabaríamos dando sinais de que conhecemos tal informação. Segundo nossa consciência superficial, não estamos escondendo informação pois literalmente não conhecemos a informação.

Nosso subconsciente consciente estaria sempre ativo mesmo não estando em foco. Ele seria nossa verdadeira personalidade, nosso verdadeiro eu. Caso desejássemos (i.e., caso nosso subconsciente consciente desejasse), poderíamos colocá-lo em foco. Várias formas de consciência podem estar ativas simultaneamente, mas apenas uma forma de consciência pode estar em foco ou selecionada num dado instante. Podemos selecionar nosso subconsciente consciente, por exemplo, para contar um segredo (um sério, obviamente, não segredos de intimidade).

Há algumas formas de se desenvolver (amadurecer) nossa consciência intensa. Algumas das formas incluem rituais ou simples hipnoses ministrados por outra pessoa. Porém estas formas são muito arriscadas, pois exigem extrema confiança na outra pessoa. Uma forma mais segura (mas ainda com seus riscos e mais lenta) é a auto-hipnose. Ela pode ser feita de várias formas, em geral se aproveitando de interpretações instintivas ou aprendidas das percepções, que se encontram numa parte do subconsciente que chamamos de instinto e que está sempre ativa. Dentre estas várias percepções, uma das mais eficientes é pelo som, mais precisamente pela música. Algumas poucas músicas são compostas para ajudar a alcançar certos estados ou formas de consciência.

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