segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Bombas de gás hilariante

Estou com uma ideia para os protestos. Já que a polícia joga bombas de gás lacrimogêneo e, diferentemente da polícia, se um cidadão comum faz o mesmo é considerado violento, então joguemos bombas de gás hilariante, hehehehe. Os policiais ririam tanto que não conseguiriam agir contra a população. O risco seria eles apertarem os gatilhos sem querer de tanto rir, e matarem inocentes, hehehe.

Brincadeiras à parte, o gás hilariante é anestésico e pode dificultar a ação da polícia. Outra coisa, um indivíduo dificilmente seria chamado de violento por lançar gás hilariante na polícia (apesar da dor provocada). Parece-me uma forma ótima de se defender. O difícil é obter o gás. Talvez precisássemos da ajuda de um odontologista.

Outra coisa que ajuda são as bombas de fumaça, que atrapalham a visão dos policiais e, por isso, dificultam sua ação. É útil contra os policiais mascarados, contra os quais o gás do riso provavelmente não tem efeito. Talvez dê para juntar a fumaça e o gás do riso na mesma bomba.

Este foi um artigo simples com uma ideia simples. Boa sorte para quem tentar pô-la em prática.

sábado, 28 de setembro de 2013

Crítica objetiva às psicociências

Outros dois artigos já havia escrito aqui sobre loucura e que criticavam indiretamente as psicociências, a saber, Normose e loucura social e Loucura artística × Loucura social. Desta vez resolvi escrever este artigo fazendo uma crítica mais objetiva, demonstrando os erros das psicociências em vez de apenas dizer que psiquiatras e psicanalistas adoram diagnosticar os outros com alguma doença que eles mesmos inventaram.

O principal erro está na forma como as “doenças” são definidas. Enquanto nas outras áreas da medicina as doenças têm uma causa bem definida, a psiquiatria insiste em definir doenças e transtornos a partir de sintomas. Falta assim metodologia científica nas psicociências, o que tira delas qualquer status de ciência. Considere, a título de exemplo, a histeria. O termo foi primeiro utilizado pelos antigos gregos para se referir ao que hoje chamamos de TPM, que, para eles, era um movimento anormal de sangue ou essência do útero para o cérebro ou outras partes do corpo, o que explicaria as variações de humor. Muito mais tarde, um psico-alguma-coisa francês resolveu utilizar o termo para descrever certos sintomas que observou em muitas mulheres. Pouco depois, observaram os mesmos sintomas em alguns homens. Por fim, descobriram que o surgimento em grande número de mulheres histéricas era devido à repressão sexual que sofriam de uma sociedade machista. Daí surgiram tratamentos (alguns esdrúxulos, como o uso de vibradores, mas que funcionavam bem) para a histeria. Mas qual o tratamento para homens histéricos? Vibradores também? Não era em todos que os sintomas apareciam por repressão sexual. Se hoje a histeria ainda existe, raramente é esta a causa.

É claro, todos os especialistas entendem muito bem esta situação da histeria. Mas a questão se figura doutra forma quando lembramos outros problemas. A esquizofrenia até hoje é tratada por eletroconvulsão, mesmo sem ter uma causa bem definida (aparentemente baseando-se na ideia de que o choque elétrico faz a pessoa “acordar para o mundo.” Veja o primeiro parágrafo desta página dizer que o mecanismo de ação não é conhecido, mas acredita-se (…)). Aliás, a esquizofrenia é a definição mais criticada da psiquiatria.

Até hoje recomenda-se o tratamento com lítio para portadores de transtorno bipolar apesar dos vestígios de que as causas do transtorno variem conforme o portador: sabe-se que, em muitos casos, ele está relacionado com genialidade, mas algumas pessoas sem vestígio de genialidade também o apresentam. Mesmo assim, para todas elas, é recomendado o tratamento com lítio que, pelo que se sabe, apenas disfarça os sintomas. A variação de humor nessas pessoas é que é considerada doença, em vez de sintoma de doenças que os estudiosos acabam não estudando. A propósito, a razão do aumento dos casos de transtorno bipolar, depressão e outros males da mente pode estar relacionada, segundo estudos, ao estresse, cuja verdadeira solução seria trabalhar menos.

Às vezes, pesquisadores tiram tomografia do cérebro “doente” para confirmar que se trata de uma doença biológica. Mas isto é uma grande burrice. Se uma pessoa está triste, por exemplo, é claro que a parte do cérebro relacionada com a tristeza está mais ativa. A tomografia serve apenas para confirmar os sintomas que os estudiosos observam, ou seja, mostrar que não se trata de uma falsa impressão. Assim, a tomografia não desvenda a causa dos sintomas, apenas apresenta uma confirmação biológica dos mesmos. Uma atividade maior ou menor de uma parte do cérebro é, na verdade, mais um sintoma, desta vez interno, quero dizer, que ocorre dentro do organismo e não pode ser visto por quem está de fora. Mas não é causa e, não sendo causa, não pode ser doença.

A metodologia que as psicociências deveriam seguir, como qualquer ciência, é começar estudando sintomas separadamente, analisando as possíveis causas para cada um. É preciso entender o que o outro vê e sente e como ele pensa, para então diagnosticá-lo. É preciso entender a doença para que ela possa ser considerada doença. E é só conhecendo as causas de uma doença que um tratamento adequado pode ser dado.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Loucura artística × Loucura social

Pode ser muito afirmar o que um autor quer ou não dizer com sua obra. Mas talvez as pessoas não entendam o que é o maluco beleza de Raul e Paulo. Isto porque elas entendem este maluco beleza como o louco puramente artístico. Acontece que o artista com sua loucura nunca sofreu preconceito. Até mesmo o gay, quando é mais artista do que gay (a famosa bicha), sofre menos preconceito (mas isto seria assunto para outro artigo). A loucura do artista é com relação à forma, é estética. São roupas, maquiagem e adereços. São trejeitos. É linguagem. Nada que promova ideias, que mude a vida em sociedade. Por isto mesmo, o louco artístico sempre foi muito bem aceito pela sociedade.

Já o louco social tem outra visão sobre a sociedade e insiste em mostrar a outras pessoas que o modelo atual de sociedade é falho em muitos aspectos. Ele é antes um gênio. E esta genialidade insiste em lhe bater à porta da consciência para mostrar os erros na sociedade de que somos parte. O louco social, sim, sofre preconceito, é quase sempre incompreendido. Quando insiste em mostrar suas ideias aos demais, é considerado insuportável e rotulado com o nome de várias doenças.

Esquizofrenia, porque aqueles que não entendem suas ideias acham que elas fogem à realidade ou, em casos extremos, porque ele se fecha quase completamente para fugir da realidade sofrida à qual é obrigado. Transtorno bipolar, porque, quando já não aguenta mais se reprimir para ser aceito pela sociedade, estorna num só golpe suas angústias e ideias (e porque sua genialidade é abusada por uma sociedade que não sabe aproveitá-la). Inabilidade social ou comportamento antissocial, porque sua personalidade não se adequa ao perfil exigido pela sociedade. Depressão e síndrome do pânico, por se fechar às vezes para a reflexão, buscando entender o mundo que o rodeia e, principalmente, a si mesmo. Autismo e suas variantes, como a síndrome de Asperger, quando sua genialidade é acompanhada de introspecção e de outros traços incomuns de sua personalidade. Hebefrenia e juventude heboide, quando sua raiva da sociedade na juventude se mistura à falta de esperança.

Raul Seixas e Paulo Coelho foram verdadeiros loucos sociais. Paulo chegou a ser internado pelo que hoje é considerado erro de diagnóstico. A sorte de Raul no auge de sua carreira foi sua loucura social ser confundida como meramente artística, pois ele era artista. Mas ele tinha suas ideias a respeito de sociedade e loucura, como deixa claro em suas músicas. Pena que a arte, pela interpretação subjetiva, não mova mudanças.

Em feira de Santana ou mesmo em Paris
Não bulo com governo, com polícia, nem censura
É tudo gente fina, meu advogado jura
Raul Seixas, Quando Acabar, o Maluco Sou Eu
Quando o homem aprende a ver, ele se descobre sozinho no mundo, apenas com a loucura(…) Seus atos, bem como os atos de seus semelhantes em geral, parecem-lhe importantes porque você aprendeu a pensar que são importantes.
Carlos Castañeda, Uma Estranha Realidade, grifo do autor

domingo, 15 de setembro de 2013

Jesuíta ou franciscano?

O novo papa é da ordem jesuíta. Como nome, escolheu Francisco em homenagem a são Francisco de Assis. Desde que o papa foi eleito, muito já se falou da ordem franciscana cada vez que o papa foi mencionado. Ele é tido como um papa jesuíta de influência franciscana. Mas, afinal, o papa era jesuíta, não franciscano! As duas ordens não têm nada a ver. E é muito fácil alegar influência franciscana; qual frade, afinal, não faz isso?

São Francisco, muitos já devem saber, foi filho de um burguês da cidade de Assis, Itália, e sequer se chamava Francisco. Um dia teve uma visão e passou a viver como um mendigo. Supostamente fundou a primeira ordem franciscana (depois tiveram o saco para inventar outras). Enquanto as ordens, digamos, não-franciscanas, em geral, não possuem ramificação, a ordem franciscana possui sete ramificações e mais umas tantas comunidades (congregações). A vida de são Francisco é povoada de mitos, mas os vestígios históricos mostram que ele viveu literalmente como um mendigo e que assumiu ser um preguiçoso e desocupado (os mendigos que você ignora na rua podem ser novos sãos franciscos).

Mas, enquanto as ordens franciscanas são até bonitinhas (eu mesmo tenho certa afeição por são Francisco), a ordem jesuíta tem um passado negro. Negríssimo. A despeito de ideais cosmetizados como evangelização, a verdadeira intenção na criação da ordem era a expansão do poder da Igreja na era das navegações. Novas terras eram (re)descobertas e a Igreja queria lançar seus tentáculos sobre elas. O início da ordem foi violento, com um histórico de guerras. E isto era visto como martírio. Logo a ordem abandonou seu caráter violento e passou até a adotar, de certa forma, a cultura dos povos que conhecia. Mas este aparente espírito de inculturação tampouco significou uma evolução em direção à benevolência. Foi antes um aperfeiçoamento de seus métodos baseado no sincretismo.

A verdadeira finalidade da ordem, que era estabelecer o poder clerical nas novas terras, acabou por suscitar a desavença de muitos intelectuais e nobres "anticristãos" que surgiam na época, e que culminou na supressão da companhia. Mais tarde a companhia foi restaurada, já sem seu objetivo original. Os jesuítas foram mártires de verdade mais tarde, no holocausto. Mas isto não pode mascarar suas origens.

Ao menos o novo papa tem correspondido minimamente ao ideal de voto de pobreza dos franciscanos ao rejeitar a pompa vaticana. Mas a realização da Jornada Mundial da Juventude só mostrou que tudo não tem passado de demagogia.

Ad maiorem Dei gloriam
Para a maior glória de Deus, lema jesuíta
Irmão Sol, Irmã Lua
Retirado do Cântico ao Irmão Sol, ou Cântico das Criaturas, é filme de Franco Zeffirelli
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz
Primeiro verso da oração de são Francisco

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Adão, Eva e a psicologia reversa de Deus

Muitos entendem a história de Adão e Eva como um caso de desobediência a Deus. Mas não é nada disso. Afinal, quando você realmente quer que uma criança pequena não mexa numa coisa, o que você faz? Mostra essa coisa a ela e diz "não mexa nisso senão você vai apanhar"? Claro que não! A não ser que você seja um pai muito burro. Para que a criança não mexa, você a deixa distante do objeto "proibido". Agora, se você quer que a criança mexa, você chama a atenção dela para o objeto em questão e diz para ela não mexer. É a famosa psicologia reversa, baseada na ideia de que o homem é incentivado pela proibição, e que se expressa no dito "tudo que é proibido é mais gostoso".

A questão é que, se até o homem, imperfeito como é, é capaz de entender a psicologia reversa, como um Deus perfeito pode ter deixado isso passar despercebido? Foi Ele que nos criou para reagirmos assim às proibições. E, querendo Ele que viéssemos à Terra, soube perfeitamente como agir para conseguir o que queria. Ele poderia ter deixado Adão e Eva bem longe da árvore cujo fruto era proibido; quiçá ter colocado uma cerca bem grande para proteger a árvore. Mas, ao invés disso, fez questão de mostrar a ambos a árvore e enfatizar que eles não deveriam comer do fruto dela.

E, com isto, Ele talvez tenha conseguido até mesmo enganar a serpente, que teria acreditado descumprir a vontade de Deus ao fazer Adão e Eva comerem do fruto (mas acho que nem a serpente seria tão burra, o que me faz pensar no que a levou a isso). A verdade é que nada nunca foge à vontade de Deus. Apenas acreditamos que isso aconteça por não compreendermos a perfeição divina. Diz-se que Deus escreve certo por linhas tortas. Mas não existem linhas tortas para Ele. Deus escreve certo por linhas retas. Nós é que somos astigmatas.

domingo, 8 de setembro de 2013

Normose e loucura social

O conceito de loucura é relativo. Depende da sociedade. Basta nos lembrarmos que homossexualidade e histeria já foram considerados doenças mentais pelos psiquiatras. Hoje já não são, mas muitas pessoas ainda insistem em cultivar um raciocínio medieval. E, não obstante estes exemplos históricos, pessoas no mundo todo ainda se esforçam em se equilibrar em convenções sociais. Pior ainda, estas pessoas têm a triste tendência a julgar aqueles que se negam a respeitar as convenções sociais. Pois, de fato, estas convenções são absurdas.

Mas as "ciências da psiquê" têm evoluído no seu conceito de doença. A ponto de evitarem este termo em algumas situações. E uma nova "doença" surgiu: a normose. Esta já era conhecida antes pela filosofia mas só foi reconhecida pela psicanálise recentemente. Trata-se da tentativa desesperada de um indivíduo de seguir todas as normas e convenções sociais. Sim, porque se preocupar com tantas regras desnecessárias é desesperador e pode levar à loucura. E muitos hábitos considerados normais são, na verdade, nocivos a nossa saúde. Agora todos aqueles que são julgados malucos por conta de seus hábitos e personalidade incomuns, mas nada prejudiciais, podem dar o troco e xingar todos os que se acham "normais" de normóticos.

Mas, mesmo com todos os avanços nas psicociências, estas ainda não se libertaram por completo dos tabus discriminatórios envolvidos no conceito de loucura. E fica realmente muito difícil devido a outra ciência: a sociologia. Em geral, ainda são considerados formas de loucura pela psicociência aqueles perfis que são atualmente inconvenientes do ponto de vista sociológico. É a chamada loucura social, aquela que supostamente prejudicaria a vida em sociedade, nos moldes da sociedade moderna. Um exemplo é o perfil de trabalhador. Mesmo hoje, a sociedade restringe desnecessariamente o perfil desejado de um trabalhador. Não faz sentido, mas todos aceitam um perfil básico. Aquele que não corresponde a essas características básicas é considerado doente. Por exemplo, antissociabilidade (e, por vezes, introspecção, principalmente quando é confundida com antissociabilidade) é considerado loucura.

Para que um indivíduo receba um diploma, ele deve frequentar uma instituição de ensino, assistindo às aulas em turma. Quem não quer frequentar uma instituição de ensino é considerado louco ou, ao menos, vagabundo. Isto é uma forma indireta de forçar a socialização. O leitor aqui faça o favor de distinguir o frequentar uma instituição de ensino do estudar. Um aluno assíduo não é necessariamente estudioso, e vice-versa. O estatuto da criança e do adolescente garante ao adolescente (até certa idade) o direito à educação, mas este direito é uma forma indireta de obrigar o jovem a frequentar uma escola, forçando-o à socialização e a uma educação voltada para o trabalho.

Às vezes isto se associa com alguma outra área como a economia. Isto acontece, por exemplo, na criação de perfis de consumo. A sociedade mantém vários perfis de consumo, que são reciclados de tempos em tempos (moda). Quem não opta por nenhum destes perfis de consumo pré-estabelecidos, mas segue o próprio, recebe rótulos pejorativos como os de louco, mão-de-vaca e excêntrico. Isto é uma forma de exigir certo padrão de consumo, fazendo as pessoas gastarem, a moeda circular e a economia crescer. Este consumo, aliás, é também estimulado por uma falsa ideia de poder chamado poder de consumo.

Recomendo o artigo Loucura e genialidade: uma perspectiva social e filosófica. Talvez seu navegador dê um aviso de cuidado com a página. Isto se deve ao fato de ela usar protocolo https (conexão segura) sem usar um certificado reconhecido pelo seu navegador. Isto não indica qualquer risco, desde que você não informe nenhum dado pessoal à pagina. Conexões https são usadas geralmente para algum tipo de "conta" na internet (como serviço de e-mails, serviços bancários, sua conta do google ou sua conta do facebook).

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Constituição Federal de 1988, artigo 205 (grifo nosso)