sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Loucura artística × Loucura social

Pode ser muito afirmar o que um autor quer ou não dizer com sua obra. Mas talvez as pessoas não entendam o que é o maluco beleza de Raul e Paulo. Isto porque elas entendem este maluco beleza como o louco puramente artístico. Acontece que o artista com sua loucura nunca sofreu preconceito. Até mesmo o gay, quando é mais artista do que gay (a famosa bicha), sofre menos preconceito (mas isto seria assunto para outro artigo). A loucura do artista é com relação à forma, é estética. São roupas, maquiagem e adereços. São trejeitos. É linguagem. Nada que promova ideias, que mude a vida em sociedade. Por isto mesmo, o louco artístico sempre foi muito bem aceito pela sociedade.

Já o louco social tem outra visão sobre a sociedade e insiste em mostrar a outras pessoas que o modelo atual de sociedade é falho em muitos aspectos. Ele é antes um gênio. E esta genialidade insiste em lhe bater à porta da consciência para mostrar os erros na sociedade de que somos parte. O louco social, sim, sofre preconceito, é quase sempre incompreendido. Quando insiste em mostrar suas ideias aos demais, é considerado insuportável e rotulado com o nome de várias doenças.

Esquizofrenia, porque aqueles que não entendem suas ideias acham que elas fogem à realidade ou, em casos extremos, porque ele se fecha quase completamente para fugir da realidade sofrida à qual é obrigado. Transtorno bipolar, porque, quando já não aguenta mais se reprimir para ser aceito pela sociedade, estorna num só golpe suas angústias e ideias (e porque sua genialidade é abusada por uma sociedade que não sabe aproveitá-la). Inabilidade social ou comportamento antissocial, porque sua personalidade não se adequa ao perfil exigido pela sociedade. Depressão e síndrome do pânico, por se fechar às vezes para a reflexão, buscando entender o mundo que o rodeia e, principalmente, a si mesmo. Autismo e suas variantes, como a síndrome de Asperger, quando sua genialidade é acompanhada de introspecção e de outros traços incomuns de sua personalidade. Hebefrenia e juventude heboide, quando sua raiva da sociedade na juventude se mistura à falta de esperança.

Raul Seixas e Paulo Coelho foram verdadeiros loucos sociais. Paulo chegou a ser internado pelo que hoje é considerado erro de diagnóstico. A sorte de Raul no auge de sua carreira foi sua loucura social ser confundida como meramente artística, pois ele era artista. Mas ele tinha suas ideias a respeito de sociedade e loucura, como deixa claro em suas músicas. Pena que a arte, pela interpretação subjetiva, não mova mudanças.

Em feira de Santana ou mesmo em Paris
Não bulo com governo, com polícia, nem censura
É tudo gente fina, meu advogado jura
Raul Seixas, Quando Acabar, o Maluco Sou Eu
Quando o homem aprende a ver, ele se descobre sozinho no mundo, apenas com a loucura(…) Seus atos, bem como os atos de seus semelhantes em geral, parecem-lhe importantes porque você aprendeu a pensar que são importantes.
Carlos Castañeda, Uma Estranha Realidade, grifo do autor

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