sábado, 28 de setembro de 2013

Crítica objetiva às psicociências

Outros dois artigos já havia escrito aqui sobre loucura e que criticavam indiretamente as psicociências, a saber, Normose e loucura social e Loucura artística × Loucura social. Desta vez resolvi escrever este artigo fazendo uma crítica mais objetiva, demonstrando os erros das psicociências em vez de apenas dizer que psiquiatras e psicanalistas adoram diagnosticar os outros com alguma doença que eles mesmos inventaram.

O principal erro está na forma como as “doenças” são definidas. Enquanto nas outras áreas da medicina as doenças têm uma causa bem definida, a psiquiatria insiste em definir doenças e transtornos a partir de sintomas. Falta assim metodologia científica nas psicociências, o que tira delas qualquer status de ciência. Considere, a título de exemplo, a histeria. O termo foi primeiro utilizado pelos antigos gregos para se referir ao que hoje chamamos de TPM, que, para eles, era um movimento anormal de sangue ou essência do útero para o cérebro ou outras partes do corpo, o que explicaria as variações de humor. Muito mais tarde, um psico-alguma-coisa francês resolveu utilizar o termo para descrever certos sintomas que observou em muitas mulheres. Pouco depois, observaram os mesmos sintomas em alguns homens. Por fim, descobriram que o surgimento em grande número de mulheres histéricas era devido à repressão sexual que sofriam de uma sociedade machista. Daí surgiram tratamentos (alguns esdrúxulos, como o uso de vibradores, mas que funcionavam bem) para a histeria. Mas qual o tratamento para homens histéricos? Vibradores também? Não era em todos que os sintomas apareciam por repressão sexual. Se hoje a histeria ainda existe, raramente é esta a causa.

É claro, todos os especialistas entendem muito bem esta situação da histeria. Mas a questão se figura doutra forma quando lembramos outros problemas. A esquizofrenia até hoje é tratada por eletroconvulsão, mesmo sem ter uma causa bem definida (aparentemente baseando-se na ideia de que o choque elétrico faz a pessoa “acordar para o mundo.” Veja o primeiro parágrafo desta página dizer que o mecanismo de ação não é conhecido, mas acredita-se (…)). Aliás, a esquizofrenia é a definição mais criticada da psiquiatria.

Até hoje recomenda-se o tratamento com lítio para portadores de transtorno bipolar apesar dos vestígios de que as causas do transtorno variem conforme o portador: sabe-se que, em muitos casos, ele está relacionado com genialidade, mas algumas pessoas sem vestígio de genialidade também o apresentam. Mesmo assim, para todas elas, é recomendado o tratamento com lítio que, pelo que se sabe, apenas disfarça os sintomas. A variação de humor nessas pessoas é que é considerada doença, em vez de sintoma de doenças que os estudiosos acabam não estudando. A propósito, a razão do aumento dos casos de transtorno bipolar, depressão e outros males da mente pode estar relacionada, segundo estudos, ao estresse, cuja verdadeira solução seria trabalhar menos.

Às vezes, pesquisadores tiram tomografia do cérebro “doente” para confirmar que se trata de uma doença biológica. Mas isto é uma grande burrice. Se uma pessoa está triste, por exemplo, é claro que a parte do cérebro relacionada com a tristeza está mais ativa. A tomografia serve apenas para confirmar os sintomas que os estudiosos observam, ou seja, mostrar que não se trata de uma falsa impressão. Assim, a tomografia não desvenda a causa dos sintomas, apenas apresenta uma confirmação biológica dos mesmos. Uma atividade maior ou menor de uma parte do cérebro é, na verdade, mais um sintoma, desta vez interno, quero dizer, que ocorre dentro do organismo e não pode ser visto por quem está de fora. Mas não é causa e, não sendo causa, não pode ser doença.

A metodologia que as psicociências deveriam seguir, como qualquer ciência, é começar estudando sintomas separadamente, analisando as possíveis causas para cada um. É preciso entender o que o outro vê e sente e como ele pensa, para então diagnosticá-lo. É preciso entender a doença para que ela possa ser considerada doença. E é só conhecendo as causas de uma doença que um tratamento adequado pode ser dado.

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