quarta-feira, 26 de junho de 2013

Minha experiência nas manifestações do Rio

Decidi, na noite desta quinta-feira (20), ir para a rua participar da manifestação no Rio junto com amigos. Fui de verde como combinado, mas não sei se fiz certo, pois não sou veramente nacionalista. Fomos primeiro para a Avenida Presidente Vargas. Não achei muito violento. Ficamos bastante tempo lá e enfrentamos algumas bombas de gás lacrimogênio. Recomendaram-me cheirar um pano com vinagre para amenizar o efeito do gás, mas não achei que surtiu muito efeito. Depois de muito tempo de um lado para o outro gritando exigências e pejoratividades contra o governador e o prefeito, decidimos tomar o rumo de volta para casa. Mas acabamos parando na Lapa para relaxar.

Ficamos um tempo no início da Rua Joaquim Silva, perto dos arcos. Até que bombas de gás começaram a cair ali sem motivo aparente (o confronto era do outro lado dos arcos). Saímos em direção à estação de metrô. Mas, no meio do caminho, decidi que deveria retornar e fazer resistência. Os outros continuaram seguindo ao metrô. Quando voltei, o clima já havia amenizado. Mas era por puco tempo. Aos poucos vinham os vândalos àquela rua, contra a vontade das pessoas que estavam lá, que reclamavam que aqueles estavam atraindo a polícia. Tentei evitar que eles entrassem. Cheguei a parar um que estava visivelmente sob efeito de droga e munido de um pau do tamanho dele. Alguém veio me ajudar e, na base do diálogo, convencemo-lo a largar aquele pedaço de pau.

Mas então veio alguém jogando munição (talvez fogos ou bombas) contra a polícia e fugindo desta. Era uma briga de cão e gato: ele atacava a polícia e recuava, e a polícia avançava em direção a ele jogando bombas de gás; ele então atacava novamente a polícia e recuava mais, e a polícia avançava mais ainda com mais bombas de gás. Parecia que o tempo havia mudado: a entrada da rua estava enevoada de gás lacrimogênio. Não sabia para onde fugir do gás. Os sintomas agora eram mais fortes: além dos olhos que eu tentava proteger e limpar com a camisa, eu também tossia e salivava, cuspia, andando com a cabeça baixa. Adentrei a rua até onde não havia gás. Vi o batalhão de choque chegar com escudos e máscaras de gás. Fiquei gritando para eles, da calçada: "Para quê isso?! Para quê?! Precisa disso?!" O gás havia nitidamente alterado meu humor. Estava mais animoso de fato (a ponto de exigir resposta dos policiais de máscaras). E assim continuaria até voltar para casa e me deitar. As outras pessoas também diziam "Para quê isso?! Aqui só tem morador!" Muita gente já havia se refugiado nas casas e bares. Eu continuei na rua.

Mais tarde chegaram mais vândalos fugindo da polícia, com a cabeça coberta, apenas os olhos à mostra. Imagino que alguns deles, apenas alguns, tivessem ligação com o tráfico. Em meio a eles vi um menino de rua de uns sete anos com o rosto coberto com lenço. Em frente à Escadaria Selarón. Os outros, quando o viram, riram e um deles disse "É o menor guerrilheiro!" Quando ouviram a polícia chegando, cada um foi para um lado: alguns subiram a escadaria (na qual estavam muitas outras pessoas), outros seguiram a Joaquim Silva e outros desceram a Manoel Carneiro. Dois PMs chegaram de moto. Desceram das motos e deram um tiro em direção à escadaria. Na melhor das hipóteses, era bala de borracha. As pessoas subiram correndo assustadas. Eu gritava "Que é isso?! A PM disparando contra a escadaria! Não tem ninguém aqui para filmar isso?!" Nessa hora passei a me arrepender de não ter levado câmera. Mas foi um só tiro. Depois os PMs me viram gritando, um falou ao outro e passaram a jogar bombas de gás. E foram embora. Um homem veio até mim reclamar de alguém que não quis abrigá-lo. Fiquei algum tempo na rua conversando sobre a ocasião e as possíveis soluções para aquele tipo de problema com algumas pessoas que começavam a se sentir mais seguras de saírem às ruas. Meu ânimo estava tão afetado pelos acontecimentos a ponto de eu dizer que a PM tinha dado um tiro de fuzil contra a escadaria (xD). A verdade é que eu não reparei na arma e não havia passado pela minha cabeça que o tiro poderia ser de bala de borracha. Depois subi a escadaria e vi as pessoas fumando (óbvio!), que me olharam com um sorriso extasiado característico.

Vendo que tudo parecia mais calmo, e já cansado de tudo aquilo, fui até o ponto de ônibus. Minha primeira intenção era pegar o 247, mas, depois de muito tempo esperando, fui para outro ponto. A empresa devia ter cancelado as viagens do 247 naquele horário por segurança. Enquanto esperava ônibus, partilhava experiências com outras pessoas e debatia sobre problemas e soluções relacionados. Vi passar uns tantos ônibus da PM e algumas viaturas do CORE. Pensei comigo se aquilo era realmente necessário. Parecia que havia alguns traficantes por ali, mas não me lembro de ter visto ninguém com revólver ou fuzil (exceto a polícia). Em momento nenhum me vi em risco real de vida. Um homem no ponto me contou que as câmeras de segurança haviam sido quebradas por vândalos. (Talvez ele quisesse dizer que esta era a razão da presença do CORE.)

Já no ônibus, via-se os policiais jogando bombas de gás contra ninguém. O gás entrava pela janela do ônibus e incomodava os passageiros (eu já sabia me proteger). Nisto alguns passageiros jovens provocaram merecidamente um policial que passava de moto ao lado do ônibus e que havia jogado uma bomba de gás. (Estranhamente o policial se sentiu fragilizado com a provocação.) Cheguei em casa xingando a PM. Não consegui dormir direito.

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